Justiça boliviana condena dois sacerdotes jesuítas por encobrir mais de 85 abusos sexuais
(Retira do título palavra Atualiza) Por Daniel Ramos COCHABAMBA, Bolívia (Reuters) - A Justiça boliviana condenou dois sacerdotes jesuítas espanhóis a um ano de prisão na terça-feira por encobrirem

(Retira do título palavra Atualiza)
Por Daniel Ramos
COCHABAMBA, Bolívia (Reuters) - A Justiça boliviana condenou dois sacerdotes jesuítas espanhóis a um ano de prisão na terça-feira por encobrirem mais de 85 casos de abuso sexual de menores cometidos há décadas pelo padre Alfonso Pedrajas, conhecido como "Padre Pica".
Eles são Marcos Recolons, 81, e Ramón Alaix, 83, acusados no primeiro julgamento criminal na Bolívia contra membros de alto escalão da Companhia de Jesus por encobrir a pederastia, um crime que durante anos permaneceu oculto sob proteção institucional.
"Comemoramos porque, para nós, este é o começo: a porta foi aberta para a tão esperada justiça", disse Wilder Flores, presidente da Comunidade Boliviana de Sobreviventes, CBS.
"Na época, houve muitas denúncias, éramos crianças, fomos levados a acreditar que a justiça estava sendo feita pelo Provincial dos Jesuítas, foi assim que fomos manipulados", acrescentou.
O caso veio à tona em 2023, quando foi revelado o diário pessoal de Pedrajas, o padre jesuíta que morreu em 2009, no qual ele admitiu ter abusado de pelo menos 85 menores entre 1972 e 2000.
Muitos deles eram crianças e adolescentes indígenas com bolsa de estudos no prestigioso internato João 23 em Cochabamba, sob o sistema educacional Fé e Alegria.
"As vítimas estão chorando e esperando por justiça há décadas", disse Pedro Lima, porta-voz da Comunidade Boliviana de Sobreviventes de Abuso Eclesiástico, horas antes de o veredicto ser anunciado em uma audiência na cidade de Cochabamba.
De acordo com a acusação, Recolons e Alaix lideraram a Companhia de Jesus na Bolívia durante os anos em que ocorreu a maioria dos abusos.
Ambos estavam cientes das alegações contra Pedrajas, mas optaram por abafá-las e não informar a Justiça, permitindo que o padre continuasse a ter contato com menores sem sanção.
O juiz ordenou que os réus cumprissem um ano na prisão de San Sebastián de Cochabamba, pagassem as custas judiciais ao Estado e indenizassem as vítimas. A decisão também exige que eles se submetam a tratamento psicológico.
Além disso, a promotoria apresentará novos casos contra outros sacerdotes citados pelas vítimas durante o julgamento, de acordo com o juiz.
Lima disse, depois que as sentenças de um ano foram proferidas, que elas não são muito severas, mas ainda assim "deixam claro que eles assumiram a responsabilidade" e chamou a decisão de um momento histórico.
"Queremos que isso abra um precedente para que nenhuma criança na Bolívia sofra abuso sexual", acrescentou Lima.
A indignação provocada pelas revelações ultrapassou as fronteiras da Bolívia e abriu um intenso debate sobre a responsabilidade da Igreja Católica na América Latina diante dos abusos cometidos em suas instituições.
"Esse dano ao povo humilde jamais poderá se repetir na Bolívia", alertou Lima, ressaltando que a resolução judicial é um precedente histórico não apenas para o país andino, mas também para a luta global contra a impunidade em casos de pedofilia clerical.
(Reportagem adicional de Walter Bianchi)
((Tradução Redação São Paulo)) REUTERS AC